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Precedente de CPFs na Bolsa
Sebastião Buck Tocalino, 22 de fevereiro de 2020

Os fatores da massa crítica e dos movimentos inerciais são muito pertinentes no mercado financeiro. Quanto mais tempo dura uma tendência, mais gente embarca nela. Quanto mais as pessoas surfam numa alta, maior será o sentimento de segurança e autoestima. Essas pessoas conversam, interagem e influenciam outras.

Tenho visto o entusiasmo de muitos com o afluxo de pessoas físicas na Bolsa. É que o número de CPFs no mercado de ações brasileiro registrou um avanço notável em 2019. Sem dúvida, para quem trabalha na intermediação de negócios ou na prestação de serviços nessa área (como agentes de investimento, corretoras, gestores, jornalistas, analistas e consultores do mercado financeiro), o dado é fantástico! Mas isso não significa lhufas para mim! Não vou lucrar com qualquer dessas atividades, a menos que seja como acionista da B3. Eu invisto por conta e risco próprio. O que é bom para os profissionais desse mercado, pode não ser bom para mim, como investidor. O melhor é fazer minha própria leitura dos dados. Por isso, pesquisei o histórico de CPFs registrados na B3 (BMF Bovespa).

No gráfico abaixo, representei a quantidade total de pessoas físicas na Bolsa:


De fato, o número de pessoas físicas registradas na Bolsa de Valores de São Paulo mais que dobrou em 2019. E isso não espanta por algumas razões óbvias.

Uma das razões é aquela que todos estão comentando à exaustão: a taxa de juros caiu muito em 2019. Tornou-se menos rentábil para os tradicionais poupadores das cadernetas de poupança e rentistas da renda fixa. Muitos deles migraram então para a renda variável. Além disso, com juros mais baixos, as empresas podem se financiar de forma mais barata. Suas despesas com pagamentos de dívidas diminuem e, teoricamente, sobraria mais dinheiro para sua produção e expansão, ou para a distribuição de eventuais dividendos aos acionistas. Os juros baixos explicam uma parte dessa convergência de otimistas quanto ao mercado de ações.


Outra razão que não deve ser negligenciada é o fato de que esta alta iniciou-se em janeiro de 2016. Ela já durava três anos no início de 2019. De janeiro de 2016 a janeiro de 2019, o índice Ibovespa já subira 130%. É natural que muitos desses oitocentos mil estreantes na Bolsa brasileira tenham sido influenciados pela visão retrospectiva do mercado em alta por anos e os retornos financeiros obtidos por outros investidores.

Tanto os juros como o contágio comportamental foram importantes para o enorme crescimento do número de pessoas físicas negociando com ações.

A retrospectiva histórica também mostra algo que não vem sendo divulgado. Assim como o número de CPFs mais que dobrou em 2019, um precedente semelhante foi registrado na Bolsa em 2007. Ali é que está um balde de água fria. Alguns meses depois, em maio de 2008, o Ibovespa deixou um pico importante. Dali, o índice de ações perderia cerca de 60% do seu valor em menos de 5 meses. As ações voltariam ao nível de março de 2005. Um retrocesso de 3 anos e 2 meses! Como diz o ditado, as ações sobem de escada e descem de elevador! E a recuperação daquela queda de 5 meses levou mais de 9 anos para acontecer. Só em setembro de 2017 voltamos ao pico de maio de 2008. Se computarmos a inflação monetária, como mostrei em "Horizontes de Investimentos e Cascas de Bananas", a coisa fica mais chata ainda.

Esse gráfico sintetiza essa informação:


No início de 2007, quando ocorreria aquele precedente do número de pessoas físicas dobrando na BMF Bovespa, a festa já durava quatro anos. Era como se metade dos foliões estivessem chegando só no fim do carnaval. Quando já havia muito mais confete e serpentina do que moças bonitas no salão.

Aquele precedente de CPFs novos na Bolsa foi apenas isso: um precedente. Não serve atualmente como prognóstico de qualquer desempenho futuro, positivo ou negativo, para as ações nesse início de uma nova década.

Muita gente está citando esse afluxo de estreantes na B3 como um importante fundamento para o otimismo. Outra forma de encarar esse fato pode até parecer sarcástica, mas não deixa de ser verdade: Nunca houve uma quantidade tão grande de amadores inexperientes atuando no mercado de ações brasileiro! Se você for um destes estreantes, por favor, não me leve a mal. Eu também já estive no seu lugar e desejo-lhe muito sucesso. A razão pela qual eu publico minha visão é justamente para adicionar-lhe informação e reflexão.

Aproveitando a deixa, fica aqui aquele velho alerta: em época de carnaval e de folia, beba com moderação e conduza com atenção.

Copyright © Sebastião Buck Tocalino


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