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Moeda Sem Lastro e
Bolsa Sem Fundamentos
Sebastião Buck Tocalino, 17 de fevereiro de 2020

Sem dúvida alguma, o gás que leva as ações ao alto é mais leve que o ar. Sua substância é a mesma do dinheiro, portanto não admira que seja tão rarefeita. Moeda fiduciária é feita disso mesmo: do nada! Sua matéria prima resume-se à deliberação dos banqueiros centrais. Isso porque a maior parte do dinheiro no mundo nem de papel é. Não passa de abstrações em programas de computadores. Quem ainda tem aquela ilusão conceitual sobre um dinheiro supostamente lastreado em riquezas tangíveis é bom acordar, jogar água fria no rosto e tomar um café preto! O mesmo pode-se dizer àqueles que buscam nos fundamentos econômicos suas expectativas para a bolsa. Eu penso que já acordei e tomei esse café amargo... Mas sei lá! Segundo a metafísica, a realidade pode ser apenas um sonho (ou pesadelo, em certos casos).

Desde a crise de 2008, a política monetária internacional desbundou de vez. O banco central americano foi o mais entusiasmado em sair do armário rapidinho. Foi virar a bolsa na esquina. Os frequentadores de Wall Street que o digam! O mercado gostou da volúpia monetarista e esqueceu-se daquele longo relacionamento que mantinha com a economia. Essa aí, coitada, tenta manter as aparências e empinar o nariz, mas segue vulnerável sobre as pernas bambas.

Em "O Gráfico Que Não Quer Se Calar", de 2013, eu mostrei o relacionamento promíscuo do S&P 500 com a moeda de programa do Fed. Voltei a mostrá-lo em junho de 2015, no artigo "A Subjetiva Perspectiva do Mercado Norte-Americano":


Os puros e castos que me perdoem, mas essa lascívia já deixou de lado qualquer sensualidade furtiva para tornar-se uma desavergonhada perversão! 

No mesmo artigo, eu mostrei uma radiografia do mercado sem o seu viagra monetário. Para isso, bastou dividir os níveis do índice de ações pelos níveis da carteira do Banco Central dos EUA (proxy para a luxuriosa moeda fiduciária do Federal Reserve System). 


Desarmado daquela postura viril, o acanhado mercado deitou-se e dormiu. 

A partir de outubro de 2014 o Fed encerrou o QE tapering (retirada gradual do 3º afrouxamento monetário) e tirou o dedo do seu botãozinho favorito (de emitir dinheiro, seu malicioso!). Mas se a expansão monetária deu uma trégua, a bolsa voltou a dar no couro. Um ano e pouco depois, já no início de 2016.  No gráfico abaixo eu uso como referência o Wilshire 5000, um índice mais amplo de ações dos EUA. Uso esse índice só pela maior facilidade no acesso a sua base de dados. Ela oferece um histórico mais longo no repositório do Fed, e me permite então traçar gráficos mais extensos. Como se pode notar comparando os gráficos, o desempenho geral desse índice amplo é muito semelhante ao do mais resumido S&P500 (ou mesmo do Dow Jones Industrial Average).


Ao dividirmos novamente o índice de ações pelo volume de dólares (representado pela carteira do Fed), podemos ver que as ações voltaram a se animar. Há 4 anos já. Claro que de forma bem menos libidinosa, sem o fetiche monetário.


Se já não há uma dependência exclusiva do quantitative easing americano, então qual seria o atual afrodisíaco do mercado? Para responder a essa pergunta, basta lembrar que o mercado não é adepto à monogamia. Mundo afora, todas essas políticas de expansão monetária estão financiando um despudor orgástico sem precedentes. 

Novamente recorremos ao voyerismo pragmático para espiarmos o que se passa entre o mercado americano e o conjunto das várias moedas globais. E, mais uma vez, flagramos o mercado na cama com o estoque mundial de dinheiro. Ou seja, mal o Banco Central dos EUA saiu de cena, seus pares estrangeiros avançaram para cima.


Todos sabemos que o mercado nunca foi santo. Independentemente disso, mantinha uma relação estável com a economia. No entanto, a promiscuidade atual abalou muito o seu diálogo com fundamentos e indicadores econômicos.

Até quando essas moedas de programa vão manter um comportamento tão despudorado? E o mercado as seguiria sempre assim tão libertino? Essa é a pergunta milionária que não tem qualquer resposta pronta! Então você é quem sabe se vai ou se fica, se põe ou se tira. Só não se apaixone e lembre-se que casamento é outra história!

Copyright © Sebastião Buck Tocalino


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