Tocalino

indique share   share   share   share   share   share   share   share   share   share   share  

www.deolhonabolsa.com

Petróleo e Dólar... Novamente!

Sebastião Buck Tocalino, 11 de março de 2017

 

Há dois anos e meio, em agosto de 2014, quando o barril de petróleo estava cotado ainda à volta dos US$ 100 dólares e as ações da Petrobras vinham subindo otimistas, eu escrevi sobre a ausência de fundamentos que sustentassem a commodity a tais preços (confira: Manchas de Óleo na Fé e as Máculas da Fé no Óleo). No mês seguinte o castelo de cartas começou a ruir. Em sua longa (e, para muitos, surpreendente) derrocada, o preço do barril despencou 70%, para cerca de US$ 30, enquanto as ações da Petrobras (a R$ 23,35 em agosto/2014) chegaram a perder mais de 80% do seu valor (recuando para R$ 4,41 em janeiro/2016).

imagem 2

Eu escrevo aqui novamente sobre o petróleo, pois agora outro fato relevante me chama a atenção: a posição vendida das próprias empresas.

Dentre aqueles que operam contratos futuros desta commodity no mercado financeiro, existem basicamente os “especuladores”, que procuram ganhar financeiramente com suas apostas nas variações de preços dos contratos, e os “agentes comerciais”, mais propriamente, empresas produtoras e distribuidoras do petróleo e seus derivados, que terão que entregar fisicamente esses produtos, e atuam então no mercado futuro com o propósito de se protegerem das eventuais variações nos preços. Suas posições em contratos futuros constituem operações de hedge (protegendo-se de depreciações de suas mercadorias). Esses segundos participantes do mercado constituiriam, basicamente, aquilo que é conhecido no jargão financeiro como “dinheiro esperto”. Quando eles operam na mão de venda de forma assim marcante, isso sugere que estão se defendendo contra uma bem provável e significativa queda no valor de seus produtos. Ao venderem contratos futuros, estão já “garantindo” o preço corrente, antecipadamente, para as entregas que ainda vão fazer mais adiante.

O saldo vendido destes agentes comerciais é o maior em 31 anos, ou seja, desde 1986!

imagem 3

Tal posicionamento, não só indica um sério temor de desvalorização do petróleo, como sugere novas dores de cabeça para os acionistas da Petrobras.

Como a commodity é negociada internacionalmente em dólares dos Estados Unidos, essa perspectiva também sugere uma retomada de alta para o dólar norte-americano, não só em relação à moeda brasileira, mas também relativamente a outras moedas internacionais.

Em um de meus primeiros artigos publicados, eu me baseava em estatísticas demográficas para acreditar que a crise de então seria bem diferente das anteriores. Escrevi em setembro de 2011: “(...) Se assim for, talvez tenhamos uma estagnação ou contração mais duradoura, estendendo-se por um período mais longo do que os já observados (...). Um cenário mais favorável nos EUA poderá vir provavelmente com um crescente número de consumidores na faixa etária de pico nos gastos, algo que deve levar ainda alguns anos (brevemente a partir de 2015 ou 2017, e com maior vigor a partir de 2022 ou 2024).

Globalmente e de forma absolutamente sem precedentes, os bancos centrais trataram a doença dos mercados financeiros a doses massivas de novo dinheiro impresso, socorrendo muito mais o doentio sistema financeiro do que a combalida população de trabalhadores, na maior parte, famílias simples estimuladas a se endividarem até o pescoço por banqueiros e líderes inescrupulosos e gananciosos. Enquanto isso, as políticas econômicas continuaram fomentando o endividamento a nível mundial, como se a cura contra o tumor fosse a própria substância cancerígena!

A temeridade da situação é que, de uma forma geral, o mundo está ainda mais endividado, com uma população envelhecendo mais rapidamente, em meio a grandes tensões sociais e internacionais, com tendências para o protecionismo, para o radicalismo e para a xenofobia. Some-se a isso novas bolhas financeiras e imobiliárias... Além de trabalhadores despreparados para competir no mercado de trabalho com uma automação cada vez mais eficiente, não só do setor industrial, mas também do setor provedor de serviços.

Contra a deflação e na falta de uma crescente população jovem e ativa para sustentar o vigor econômico, criaram mais dinheiro ocioso; na falta de uma crescente formação de novas famílias a procura de novos lares, criaram fundos e instituições que absorvessem a maior oferta de imóveis e se tornassem proprietários dos mesmos (inflacionando assim até os aluguéis). Na falta de novos acionistas comprando ações nas bolsas e de novos consumidores que pudessem gerar maiores lucros para as empresas de capital aberto, os conselhos administrativos das mesmas deliberaram por comprarem suas próprias ações e eliminarem o maior número possível destas, permitindo que menores lucros se diluíssem menos e, até mesmo, aumentassem em relação ao menor número de ações remanescentes no mercado.

Quando a metástase do câncer de 2008 se revelar evidente e mais uma vez urgente, sabe-se lá como serão as políticas econômicas dos bancos centrais mundo afora, mas parece-me que a manjada quimioterapia de dinheiro novo na veia dos bancos já se mostrou pouco curativa (ao menos para quem não pertence ao sistema financeiro).

E, sem impressoras ou com impressoras, o dólar pode se fortalecer novamente, a menos que os helicópteros do FED deixem de lançar seu dinheiro impresso apenas sobre os quintais dos bancos...

 

Copyright © Sebastião Buck Tocalino

www.deolhonabolsa.com

português  confira outros textos
English  more reading material


indique share   share   share   share   share   share   share   share   share   share   share  

A bolsa estimula a cidadania!

Compartilhe este texto por email ou pelo LinkedIn, Twitter, Facebook, Google+ e outras redes.

ATENÇÃO: Quaisquer opiniões expressas pelo autor são naturalmente subjetivas e sujeitas a polêmica.
Esta não é uma recomendação de investimento! Os dados visualizados aqui procedem de outras fontes, a princípio fidedignas, de boa reputação e acessíveis ao mercado.
De Olho Na Bolsa não faz indicações de compra ou venda, ou de negócios de qualquer espécie, e não está autorizada a atuar como consultoria de valores mobiliários. Não nos responsabilizamos por decisões tomadas com base nas informações aqui reunidas.
INVESTIMENTOS EM AÇÕES ENVOLVEM RISCOS! Para sua maior segurança, procure sua corretora. Ela poderá ajudá-lo a avaliar riscos e oportunidades em negócios com valores mobiliários.